A máfia das próteses e os limites das grandes reportagens

06/01/2015 14:22

Davenir Viganon

A grande reportagem é objeto muito valorizado no jornalismo televisivo, do qual a rede Globo, apesar de sua crise, continua a se gabar. Vamos analisar a última dessas “grandes reportagens”, apontando seus limites e suas possibilidades. Trata-se da reportagem exibida no último domingo pelo “Fantástico” onde consta uma denuncia de um esquema de fraude no orçamento de licitações para a compra de próteses cirurgicas e também em processos de liminares que obrigam o Estado a pagar pelos procedimentos. A chamada máfia das próteses superfaturam peças protéticas, através de empresas privadas e diversos médicos para roubar recursos públicos.

Tendo como subsídio, as informações e denúncias desta reportagem seremos capazes de formular nossos questionamentos sobre o assunto? Ela ajuda a travar um bom debate sobre a saúde pública? Para entender melhor os limites das grandes reportagens, é preciso desmistificá-las de sua diferenciação das demais notícias. Para Adelmo Genro Filho, a grande reportagem é

“(...) comumente descrita como uma ‘notícia grande’ onde a noticia cristalizada pelo singular ganha elementos da particularidade mais importantes que fornecer o contexto, pois ela ganha certa autonomia, ela pode aparecer na forma de dados científicos que dão aporte a notícia ou de elementos da literatura que podem trazer elementos ao relato que a simples cristalização do singular não alcançaria” [1]

A grande reportagem do programa Fanstástico do último domingo (04/01/2015) foi bastante eficiente em apontar o método de funcionamento do esquema de fraude porém muito restrita em apontar causas mais profundas ao não exigir responsabilidade dos conselhos de medicina, por exemplo. A contextualização da situação médica foi superficial e um apontamento para a solução foi inexistente. Também não houve nenhuma tentativa de apontar às causas de tal situação. Foi positivo no entanto, além de óbvio, qualificar a postura dos médicos como a de profissionais que “só querem ganhar dinheiro” mas foi imperdoável a omissão do termo “corrupção” do jornalismo da Globo.

A corrupção é incansavelmente associada, no jornalismo televisivo da emissora, ao poder público dos altos escalões da administração pública porém é constantemente dessasociada ao mencionar a participação da iniciativa privada e em instiuições corporativas de muito poder, como os conselhos de medicina. Nesta reportagem nem sequer citaram algum conselho de medicina.

A reportagem concentra-se na exibição do material investigado, enfatizando, em maior medida, a espetacularização dos flagrantes - como na cena em que um dos médicos é perseguido a pé pelo repórter após ser flagrado. Ela também não procura aprofundar, sequer apontar o caminho para se pensar nas causas que levam a este caso de corrupção sistêmica. Infelizmente não devemos esperar por mais que apenas sua repetição resumida do que vimos no domingo durante os próximos dias.

Os elementos particulares da questão da saúde, mesmo em uma reportagem desta magnetude, ficaram tão estreitos quanto em uma notícia comum, enquanto o aporte científico que a qualificaria como “grande reportagem” resumiu-se, no máximo, a alguns termos jurídicos.

A entidade que tanto combateu o "mais médicos" se calou frente a máfia das próteses

Para não dizer que não se comentou nada sobre a reportagem, houve um pequeno debate promovido pela RBS no Rio Grande do Sul (local onde ficam alguns dos locais exibidos na reportagem), durante o Jornal do Almoço, que no dia seguinte trouxe um representante dos direitos do consumidor (não fiz questão de lembrar do nome) que além de indignar-se (o que não acrescenta nada), propôs medidas de “ação rápida”, como exigir mais fiscalização, incluindo a feita pelo próprio consumidor exigindo mais direitos. Ora, o sujeito que procura o SUS não é um consumidor mas um cidadão.

A relação entre médico e paciente é o debate que deveria ser travado quando temos de um lado médicos que desejam apenas ganhar dinheiro e do outro lado pacientes que sofrem pela demora no atendimento e na realização de procedimentos. O problema da saúde pública não encontra, nesta “grande” reportagem, subsídios para que se formulem perguntas que realmente extrapolem a expetacularização que vimos no domingo.

Este é o grande debate omitido pela grande mídia durante a cobertura da implantação do programa Mais Médicos, que foi cercada de preconceitos, inclusive raciais, contra os médicos cubanos. O breve período de contato dos pacientes com uma medicina humanizada encontrou toda a base necessária na realidade contra qualquer falácia dos meios de comunicação tradicionais em relação ao programa.

A máfia das próteses evidencia a miséria da medicina corroída pelo mercado da saúde enquanto os médicos importados apontam um caminho para de uma prática da medicina mais humanizada. Já a grande reportagem da Globo deste domingo, infelizmente não foi capaz de apontar um caminho como esse, resumindo-se numa denúncia pela denúncia, que provoca não mais que indignação pela indignação, que por sua vez não contribui para um debate construtivo na sociedade.

Nota

[1] GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide - para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre, Tchê, 1987

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Comentários: A máfia das próteses e os limites das grandes reportagens

Data: 08/01/2015

De: Fabio

Assunto: Mafia das Prot

Esse blog é petista, ou seja, é tendencioso !
Mais médicos é um lixo... Fantastico é outro lixo..
Brasil um país de tolos
(esse blog pode ser patrocinado pelo PT, MST, CUT...... LUla..)

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Data: 09/01/2015

De: Silvio

Assunto: Re:Mafia das Prot

Fábio: 'Mais Médicos" é um lixo? O Brasil é um país de tolos? Vc. deve ser médico. E daqueles cheio de ganância e arrogância.

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