Algumas reflexões sobre o tema educação
04/08/2014 20:31Christian Silva de Castro[1]
Muito se fala sobre a educação nas rodas de intelectuais, reuniões e pautas de leis votadas regularmente em nosso país. Essa discussão adentra as camadas mais variadas da sociedade através da difusão de informações, muitas vezes equivocadas quando transmitidas pelas redes sociais e mídias de comunicação em massa. Contudo, questiono o quanto este conceito tão essencial para nossa sociedade é compreendido por aqueles que o discutem?
Acredito ser impossível falar sobre a educação sem mencionar o papel do professor dentro, e conforme indicam os novos debates também fora do âmbito escolar. Mas o que é um professor? Como se forma um professor? Não é minha intenção aqui entrar em pautas mais subjetivas e “quase” freudianas de como o subconsciente nos tenciona pelo magistério, mas em uma análise levemente aprofundada sobre as teorias da educação que permeiam as práticas dos professores da atualidade, em especial na rede pública onde atuo. Percebo a escola enquanto um espaço sem autoria por parte dos professores, o que torna a instituição Escola em algo próximo a um laboratório de experiências governamentais – projetos como os recentes pactos[2] são bons exemplos - com o objetivo de sanar lacunas que, em sua maioria, não são solucionadas apenas com investimentos burocráticos em educação. Estas intervenções governamentais são vistas pela maioria dos professores como um “abuso” por parte do Estado, considerando a imposição de uma a dita formação continuada. Entretanto, na ausência de uma iniciativa de professores – enquanto classe –, que possam organizar e revisar o conteúdo apreendido durante aformação, e ainda tenham a possibilidade de resinigficarem as suas práticas, acaba colaborando para a efetividade de recrutamentos compulsórios para estas formações.
Ainda sobre a autoria, penso no caráter acadêmico com que somos formados, lendo e relendo diversos autores de nossas áreas do conhecimento, pensando, construindo hipóteses e realizando exercícios dentro da segurança dos muros da universidade, recebendo todo o preparo para uma realidade que está por vir. No entanto, quando finalmente saímos da academia, nos deparamos com uma realidade completamente distinta daquela para a qual fomos preparados. Após analisar os principais cursos de licenciatura de Porto Alegre, salienta-se, ainda, que o contato com o ambiente escolar ocorre somente no final do curso, normalmente alguns semestres depois de termos contato com as disciplinas de didática e psicologia da educação, disciplinas alocadas no início dos cursos, onde temos os primeiros contatos com os principais teóricos de educação, de cognição, entre outros.
Pode-se dizer que saímos da universidade como verdadeiros especialistas em nossas áreas, mas são raros os momentos em que aprendemos a traduzir os conhecimentos ditos acadêmicos para a realidade escolar, e quando finalmente nos habituamos a realizar esta transição, esquecemo-nos de como fazer o caminho inverso e novamente escrever cientificamente, ou seja, a ressignificação do que entendemos por conhecimento é essencial.
Mais do que a capacidade de organizar nossos conhecimentos cientificamente, acredito que perdemos a capacidade de nos encantarmos com as nossas tarefas diárias. Por quê? Porque, ao longo de nosso tempo dentro de uma sala de aula, deixamos a curiosidade de lado e nos apegamos em práticas mecânicas e extremamente minimalistas? Ignoramos as palavras de Paulo Freire,o qual afirmava que o docente é um ser essencialmente curioso e que necessita da curiosidade como força motriz para o desenvolvimento de seu trabalho. Sem a curiosidade, não podemos alcançar a autoria, o protagonismo necessário para que a nossa classe retome a consciência de sua importância. Saliento que quando me refiro à classe de professores, direciono minhas palavras para todos aqueles que atuam na nobre condição de docência, inclusive na formação primária de futuros docentes, nas universidades.
Ressignificação. Esta é a palavra-chave da modificação que a educação carece. Necessitamos reconstruir a ideia do espaço escolar, não como um lugar fixo, com classes, quadro, giz, e em alguns casos recursos tecnológicos, mas sim a cidade enquanto um espaço que permite aprendizagens. Necessitamos com urgência repensar a forma como compreendemos o espaço e o tempo escolar, rever a maneira como as disciplinas, e principalmente os métodos de avaliação, são disponibilizados aos alunos. Esse processo, bem sabemos, é longo e nada fácil. Requer a abdicação de valores e “vícios pedagógicos” adquiridos ao longo de anos de práticas que teimaram em não acompanhar o desenvolvimento do mundo além dos muros da escola. É necessário recriar o mundo em que vivemos, compreendendo a educação enquanto um fenômeno vivo e dinâmico, por mais poética que essa afirmação pareça.
Para que esta ressignificação ocorra, precisamos pensar qual a função da escola? Acredito que seja fornecer subsídios para o bom funcionamento da sociedade através da formação de sujeitos críticos e socialmente ativos. Os números disponíveis no censo escolar[3] apresentados pelo INEP demonstram um crescente número de evasões e defasagem entre a idade e a série dos alunos. Enquanto docentes, como podemos formar indivíduos capazes de viver em sociedade de forma plena, operacionalizando e racionalizando todos os aspectos da vida em grupo, ao mesmo tempo em que ainda pensamos de forma fragmentada? É preciso integrar os indivíduos ao mundo que os cercam, inseri-los ao universo escolar, educando de forma integral (mas não de educação integral – esta também requer um sem fim de alinhamentos e requisitos interssetoriais que demandariam muito tempo, debates e intervenções governamentais), na perspectiva de formar indivíduos de forma íntegra, unindo todos os elementos que o cercam, no intuito de desenvolver a criticidade, ou seja, formar humanos.
Notas
[1]Graduado de História (FAPA, 2010), Psicopedagogo (FAPA, 2012), e pós-graduando em Educação Integral: ênfase na abordagem teórico-metodológica do Trajetórias Criativas (UFRGS, 2014). Atuo na disciplina de História na rede pública estadual na região metropolitana de Porto Alegre.
[2] Mais informações disponíveis em: https://pacto.mec.gov.br/
[3] Informações sobre os sensos realizados nos anos anteriores disponíveis em: https://portal.inep.gov.br/basica-censo
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