Desconstruindo o mito: Bento Gonçalves
16/09/2013 21:22Rafael Lapuente
Ah, o levante armado dos farrapos! Motivo de "orgulho" e "bairrismo" do Gaúcho. O gaúcho que é superior, acima do Brasil, acima dos outros estados. O gaúcho que é antes gaúcho que brasileiro.
O que representa mais esse levante é a tentativa de se criar uma república separada do Brasil sob liderança inconteste de Bento Gonçalves da Silva. Mas seria isso mesmo?
Vejamos um trecho de uma carta de Bento Gonçalves:
Briosos guardas nacionais! Não escuteis suas vozes insidiosas, não acrediteis em tais boatos; eu posso assegurar-vos que Não existe nenhum plano de República e separação do Brasil. Os rio grandenses que empunham para resistir a opressão, amam q querem todos pertencer a união brasileira. [...]União, guardas nacionais, e a Pátria será feliz: União outra vez vos digo e a pátria nada terá que temer. Viva a liberdade! Viva a constituição reformada! Viva o sr. D. Pedro II! Viva a união dos rio grandenses livres(MACEDO , 1999, p. 55-56, grifo meu).
Juremir Machado da Silva, autor de História Regional da Infâmia, já recebeu ameaças de ser “capado” por revelar a verdadeira face dos mitos farroupilhas
Na visão do historiador Tau Golin (1983, p. 12) Bento Gonçalves foi um dos maiores ladrões de gado e cavalos que já existiu no Rio Grande do Sul e um contrabandista, o que é confirmado pelo tradicionalista gaúcho Fernando Sampaio na obra "Bento Gonçalves: Mito e história", escrita exclusivamente para responder a Tau Golin - contudo, acaba se rendendo aos fatos.
Sobre os farrapos, ninguém escreveu mais do que Moacyr Flores (2002). Nos diz Moacyr Flores que Bento Gonçalves "apoiou" a República por que percebeu que seria o presidente da mesma, e não pensando na melhoria do povo ou na causa, podendo gerir a administração a seu próprio gosto.
Traição de Porongos: Na semana farroupilha, se tenta esconder o fato de todas as maneiras.
Ou seja, de revolucionário classista com ideal de liberdade Bento Gonçalves tinha muito pouco, ou quase nada, ao bem da verdade. De republicano, muito menos. Era um ardor monarquista. Escravista, morreu deixando mais de 50 escravos como herança, afora muitas terras – mesmo dizendo que morreu como o mais pobre dos pobres - o que nos leva a questionar a glorificação que recebe a cada semana farroupilha, quando inicia a comemoração de um período sangrento que marca a derrota dos farrapos no acampamento localizado na mui leal e valorosa Porto Alegre que apoiou o império, onde a imagem "será a do gaúcho idealizado. é um grande teatro, onde os atores se inspiram na saga farroupilha" (SILVA; SABALLA, 2011, p. 120)
Referências
FLORES, Moacyr. República Rio Grandense: Realidade e Utopia. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.
GOLIN, Tau. Bento Gonçalves: O heroi ladrão. Santa Maria: LGR Artes Gráficas, 1983.
MACEDO, Francisco Riopardense de. Bento Gonçalves. Porto Alegre: IEL/DIVERGS, 1990
SILVA, Sérgio Roberto Rocha da; SABALLA, Viviane Adriana. Bento Gonçalves e a idealização do Mito. In: CIRCULO de pesquisas Literárias. A era Flores da Cunha. Porto Alegre: EdiPlat, 2011)
(Observação: Fiz questão de não citar Juremir Machado da Silva. Há outros historiadores lúcidos além dele)
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