Duas cores, duas medidas - Jornalismo conservador de Sheherazade e sua avalanche de estupidez
10/02/2014 08:55Davenir Viganon
A âncora do Jornal do SBT Rachel Sheherazade já vem a tempos fazendo fama, dando voz e vazão ao conservadorismo no Brasil. Seus comentários após as notícias vem acumulando uma turba de seguidores e críticos, devido a firmeza e aspereza de seus comentários sobre temas potencialmente polêmicos. O caso do menor preso a um poste no Rio de Janeiro [1], não ficou de fora dos comentários da jornalista [2] que em sua fala mostra o lado mais perigoso do conservadorismo, quando endossa atitudes violentas e ilegais alegando uma situação política do país, no caso a falta de repressão da polícia que levou os ditos “justiceiros” a tomarem uma atitude.
Com a ação judicial encaminhada pelo deputado Ivan Valente do PSOL contra a jornalista por “apologia a violência”[3] debate-se o teor do comentário. Sabe-se que o posicionamento que ela expressa é bastante comum e muito reproduzido nas redes sociais. Na rede dificilmente há responsabilização judicial por emitir opiniões que incitem a violência ou preconceito, como a da professora universitária sobre o homem de regata no aeroporto[4]. No entando Sheherazade não está avulsa na internet é uma jornalista que fala em um veículo privado que usa uma concessão pública, logo ela e o SBT devem se responsabilizar pelo que é dito.
O STB alega que a opinião da jornalista não é necessáriamente a da empresa e no que depender da atual regulamentação da mídia, fica tudo disperso no mar da liberdade de expressão. Porém a seleção das opiniões que serão exibidas passa por um processo de edição que é caracteristico do jornalismo.
Rachel fez como todo jornalista, apreendeu um fato cristalizando em sua singularidade, e de forma mediata reproduziu a experiência para trazer a público o que aconteceu. Inseparavélmente à essa singularidade, estão os conteúdos particulares e universais. Neste conteúdo é onde se abriga seu discurso de classe e racista despejando seu desprezo ao rapaz pobre e negro.
Ao zombar dos “direitos humanos”, que são universais, Sheherazade está afirmando que ter direitos é restritivo a uma certa camada de “homens de bem”. Em sua linguagem pretensamente objetiva, a jornalista usa jargões populares e policiais para defender um ato ilegal comumente praticado por gangues de neonazistas. Estes que se dizem cansados de corrupção (em seu discurso causado pela mistura de raças) resolveram fazer sua politica que lhes é caracteristica, semelhante aos “justiceiros”.
Um jornal á altura de Sheherazade
O jornalismo conservador de Sheherazade é preocupante, ela apresentou a notícia e expôs o conteúdo, reforçado de modo sensacionalista na sua opinião, carregado da “imparcialidade jornalística”. Para Adelmo Genro Filho não resta dúvidas que
a chamada "objetividade jornalística" esconde uma ideologia, a ideologia burguesa, cuja função é reproduzir e confirmar as relações capitalistas. Essa objetividade implica uma compreensão do mundo como um agregado de "fatos" prontos e acabados, cuja existência, portanto, seria anterior a qualquer forma de percepção e autônoma em relação a qualquer ideologia ou concepção de mundo. Caberia ao jornalista, simplesmente, recolhê-los escrupulosamente como se fossem pedrinhas coloridas. Essa visão ingênua, conforme já foi sublinhado, possui um fundo positivista e funcionalista. Porém, não é demais insistir, essa "ideologia da objetividade" do jornalismo moderno esconde, ao mesmo passo que indica, uma nova modalidade social do conhecimento, historicamente ligado ao desenvolvimento do capitalismo e dotado de potencialidade que o ultrapassam”[5]
Muitos defensores alegam que Sheherazade fala “A Verdade”. De fato ela traz a verdade jornalistica, que não passa de uma recontrução dos fatos mediada pelas técnicas jornalisticas. Mesmo a apreensão imediata dos acontecimentos, através dos sentidos, traz todas as nossas experiências e visões de mundo, impedindo uma objetividade que nos permita dizer que alguém, ainda mais um jornalista, possa trazer “A Verdade” com V maiúsculo.
O que mais preocupa nisso tudo é o posicionamento político da jornalista que quando incita a violência, relevando a atitude dos “justiceiros” inclinando-se para negação da própria política. Afinal se a preocupação dela orbita na falta de autoridade estatal, legitimar a violência como forma de politica é trazer uma solução trazida pelos nazistas, justamente uma das duas únicas materializações do totalitarismo (na visão de Hannah Arendt) que ela tanto condena, não é atoa que jornalista lembre apenas do lado comunista deste conceito como fez em entrevista recente[6].
Contudo Sheherazade não é agressiva e firme o tempo todo, podemos vislumbrar seu o lado compreensivo quanto certos criminosos no seu comentário sobre a passagem do cantor Justin Bieber ao Brasil[7]. O coração mole da jornalista em relação a suas atitudes evidencia que seu discurso tem duas cores e duas medidas.
Notas
[1] https://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/02/jovem-negro-e-acorrentado-nu-em-poste-por-grupo-de.html
[2] Como podemos ver neste vídeo - https://www.youtube.com/watch?v=at89CynMNIg
[3] https://www.cartacapital.com.br/sociedade/psol-vai-encaminhar-representacao-ao-mp-contra-apresentadora-do-sbt-8604.html/view
[4] https://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/23154-professores-universitarios-postam-no-facebook-critica-contra-pobre-em-aviao
[5] GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide - para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre, Tchê, 1987
[6] https://gente.ig.com.br/tvenovela/2014-02-08/rachel-sheherazade-sobre-nota-de-repudio-irresponsavel-e-inidoneo.html
[7] Visto aqui https://www.youtube.com/watch?v=EDBIirfsj78
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