Fetiches capitalistas: um dos cernes da desigualdade
19/07/2012 12:38Daniel Baptista
Tenho um grave problema de insônia, principalmente nos finais de semana, e sexta feira dia 6 de julho de 2012 veio a aflorar esse problema. Portanto, nada melhor para acompanhar a insônia do que a máquina de fazer louco (TV) e vi uma reportagem do programa do Otávio Mesquita, o Claquete. Ele estava no leilão da Receita Federal e os itens leiloados iam desde raquetes para matar moscas (arrematada por R$ 2500!!!) até ao item mais caro do leilão, uma Lamborghini arrematada por mais de R$ 900 mil!!! E aqui começa mais um protesto. Porque existem mercadorias, cujo propósito funcional é o mesmo, que custam 1milhão de reais e outras 30 mil reais?
A classe burguesa quer exclusividade, exotismo, excentricidade. Esses valores culturais que definem e colocam o cidadão em sua camada social não aconteceram da noite para o dia, mas para limitar o período vamos até o florescimento das especiarias, durante a explosão comercial do medievo. As rotas abertas pelas caravanas comerciais até o oriente trouxeram produtos nunca antes consumidos ou imaginados pelos europeus: pimentas, noz-moscada, cravo-da-Índia, seda e muitos outros. Essas especiarias não só enriqueciam as cortes européias como também a classe de mercadores, ascendentes da futura classe revolucionária que gestariam os costumes do mundo séculos depois. Aqui podemos afirmar que existe uma relação de oferta e procura o que define o valor de uma mercadoria. Saibam amigos, que o açúcar, um produto tão banal, por exemplo, era tão valioso que era usado como dote para casamentos (imaginem-se hoje vocês pedindo a mão de suas namoradas para os seus sogros com 1kg de União) hoje você usa a Lamborghini para isso. Não quero dizer que um sujeito vá casar possuindo um Lamborghini, ou que todas as mulheres estão condicionadas a isso, não! Mas como dizem os psicólogos modernos, um carro é a extensão de um pênis de homem, mas isso é outra história.
Com esses exemplos cheguei aonde queria debater com vocês, que em minha opinião é um dos passos fundamentais para se chegar a almejar uma sociedade menos desigual e mais equilibrada, que é a de negar qualquer fetiche capitalista. E todos nós estamos condicionados a aspirar ao caro, o melhor, o raro, o exclusivo, a marca. Isto nos dá status e destaque na sociedade, alcançamos um padrão que jamais imaginaríamos ter e suamos para ter ele, esta justificativa amarrada à meritocracia. O que motiva a empregada a acordar cedo e ir limpar a casa da sua patroa não é as suas contas, mas sim o sonho de possuir tudo o que a sua patroa tem.
Como se viu o gosto pelo requinte não uma novidade, mas em nosso imaginário o produto altamente refinado nos dá a falsa ilusão de que possuímos um produto que é o símbolo do ápice de nossas vidas. Mas não passa de um fetiche, de um feitiço. E isto abraça uma série de relações que regem nossa sociedade.
Qual o problema do sujeito possuir uma Ferrari? Você poderá perguntar, é que quem tem condições de possuir uma Ferrari, precisa de uma alta concentração de renda, para se ter uma alta concentração de renda é necessário explorar milhares de pessoas, explorando e concentrando renda, o sujeito aumenta o grosso da miséria, aumentando a miséria você aumenta a criminalidade, por exemplo, isso faz um sujeito meter uma arma na cabeça de outro e cometendo o crime irá preso, porque ele sonha em ter a Ferrari, o Nike, o Armani, aliás, o convenceram de que ele necessita desses fetiches para ser uma pessoa respeitada. Aí fica fácil dizer que a solução para as mazelas da sociedade – ou uma delas - é tocar fogo no Presídio Central com todos os vagabundos dentro. Mas se distribuirmos a renda todos poderão ter as suas BMW? Ora não! Esse não é ponto, embora eu já tenha ouvido falar que se todos tivessem uma vida de novela “das oito” o mundo ia ser melhor. Só não me disseram de onde iríamos tirar tantos recursos para sustentarmos esse padrão de vida, Hollywood é para poucos. Além de caros e astronômicos, os fetiches capitalistas consomem boa parte dos recursos naturais.
Atualmente jogam a conta da degradação ambiental na sua consciência: “poupe água”, “desligue a luz”, “separe o lixo”, “de o destino certo para baterias de celulares” e por aí vai. Mas ninguém fala para o siderúrgico poupar água onde se gasta 100mil litros do precioso óxido de hidrogênio para produzir uma tonelada de aço. E assim o siderúrgico pode comprar a sua Lamborghini, uma mercadoria que o define muito bem a posição dele na sociedade e por tabela justifica a sua condição, enfeitiçando e despertando o sonho dos demais em possuir um dia uma Lamborghini. Legitima ao mesmo tempo a relação entre os homens, “trabalhe, de o melhor de si e desfrutarás disso tudo” um mundo recheado de festas em Jacuzzis e peitões com um litro de silicone. Justamente a ostentação dessa fantasia nos aprisiona e não faz ninguém progredir para além desta materialidade. E incrível que ninguém escapa dessa, ou vocês amigos, não acham que eu sonho em possuir um roupeiro cheio de camisas de futebol? Não quero aqui dar uma de profeta do apocalipse ou um demagogo de plantão, se interpretaram assim tudo bem, afinal a proposta desse site elaborado pelos meus amigos não é um ponto final em si e sim, um ponta pé para uma discussão que nos leve a algum lugar. Se buscamos uma sociedade mais fraterna, é necessária essas reflexões, pensamos juntos então: precisamos de Lamborghinis ou Ford´s KA? Ou então um transporte público decente que atenda todos os pontos citadino? Precisamos de suco de lima da Pérsia ou água potável para todos os pontos do mundo onde tenha comunidades? São questões que soam como discurso de político demagogo, e obviamente não tem uma resposta simples, mas que os fetiches definem e configuram o germe da miséria, ah, disso eu não abro mão, até que provem o contrário.
Isto aqui camaradas...
...é sustentado por isso em escala astronômica.
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