Impasse da esquerda brasileira: Política e ideologia. (Parte II)
05/07/2012 17:44Davenir Viganon
Segue a reflexão iniciada aqui sobre o impasse da esquerda no Brasil. Vamos abordar as expectativas de um governo de esquerda no poder, como de aconteceu e lançar alguns questionamentos para o futuro, mais precisamente, sobre as visões mais “puras” da esquerda e as mais “moderadas” que consigo perceber.
As expectativas, realidade e o futuro.
As expectativas de um governo mais “social” que “econômico” ou como a imprensa tradicional gosta de dizer “o risco Brasil aumentou, ruim para a economia!” não se concretizaram. Os programas sociais de fato só puderam ser implantados pelo respaldo econômico que tiveram. O Exemplo mais óbvio, o Bolsa Família, teve como consequência econômica aumentar mercado e aquecer a economia, incluindo uma faixa da população que não tinha acesso a uma economia de mercado, ou seja, deu um poder de compra mínimo a essas pessoas. O retorno do dinheiro do programa que volta na economia brasileira é certo, afinal quem está passando fome não vai investir na bolsa de valores com o dinheiro recebido e sim vai comprar comida no mercadinho da esquina. E ainda há quem estupidamente acusa o programa de “dar o peixe e não ensinar a pescar”. Talvez façam isso por que não sabem que existe um fluxo muito significativo de pessoas que saem do ‘bolsa família’ por não precisarem mais, dando lugar a novos beneficiados. Volto a repetir que sem um retorno na economia esses programas estariam fadados ao fracasso pela falta de apoio político. A “inclusão social” [1] pelo consumo, estimulado pelo crédito, entre outros fatores permitiu o Brasil se tornar a sexta economia do mundo. Situação essa que o Brasil ocupa na economia não pode ser mantida eternamente. Se esses benefícios econômicos não forem revertidos em auto-suficiência tecnológica, industrial, o Brasil vai atravessar um momento de recessão.
Seja pelo senso comum ou pela posição assumida de direita, ainda teremos que ver, ler e ouvir essas balelas!
Aspectos ideológicos da esquerda “radical” e “centro-esquerda”.
Voltando a aquela pergunta, de lá do inicio da primeira parte, “se o PT ‘se vendeu’ ou é uma ‘estratégia’?” confesso que só me vem mais perguntas sobre a esquerda o Brasil. Refiro-me primeiro aos modelos mais “puros” de pensamento de esquerda, que tendem ao radicalismo. Como podemos aplicar em nosso país, a sexta economia do mundo e com uma ótima aceitação do governo frente à população, um discurso retrogrado datado da revolução bolchevique do inicio do século XIX? Boa parte da esquerda ainda repete as velhas formulas e ainda se batem entre Stalinistas e Trotskystas para saber quem é o verdadeiro continuador do legado de Lênin. De fato a revolução russa é um assunto riquíssimo (que particularmente gosto muito de estudar), mas não pode ser o único parâmetro. A revolução russa foi vitima de seu pioneirismo e como tal tem mais lições de como “não fazer” do que “o que fazer”. Será possível manter uma luta por mundo melhor, com o otimismo e a paixão, quando se revisa os próprios conceitos, sem se considerar ‘vendido’?
Quando aos mais “moderados”, até quantos sapos é possível engolir, para se alcançar algumas conquistas sociais? Os avanços econômicos são óbvios e importantes, mas não vão durar para sempre. Sendo assim, vamos ver alguma mudança em longo prazo, mesmo que lenta, que torne o Brasil não apenas uma potencia econômica, mas também autônoma cultural e tecnologicamente? Mudanças que livrem o Brasil de se agarrar num pensamento de colônia? Mudanças que tornaram nosso país livre de ver cenas como a de Lula se aliar ao Maluf para poder manter a esquerda no jogo politico?
Até o mais realista, desanima com essa imagem!
Como disse no inicio, não tenho respostas, mas quem sabe a resposta não seja que devemos continuar a fazer mais perguntas?
[1] - Na verdade seria uma inclusão econômica com benefícios sociais.
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