O dízimo

12/03/2013 08:40

Rodrigo Garcia[1]

Muito se critica e se pergunta sobre a origem da riqueza dos pastores de igrejas evangélicas. A hipótese para tal resposta recai numa resposta: o dízimo. O dízimo cobrado pelas igrejas não é uma novidade em nossa contemporaneidade, isto vêm de longas tradições religiosas, porém foi na idade média que o dízimo passou a ser uma fonte de riqueza as igrejas, neste tempo foi da igreja católica.

Na idade média o dízimo era parte integrante do poder da igreja católica. A igreja ocupava um lugar onde os reis e os senhores feudais eram ausentes, como Leo Huberman (1984, p. 23) descreve:

Nos primórdios do feudalismo, a Igreja foi um elemento dinâmico e progressista. Preservou muito a cultura do Império Romano. Incentivou o ensino e fundou escolas. Ajudou os pobres, cuidou de crianças desamparadas em seus orfanatos e construiu hospitais para os doentes. Em geral, os senhores eclesiásticos ( da Igreja) administravam melhor suas propriedades e aproveitavam muito mais suas terras que a nobreza.                                     

A igreja praticava atos caridosos e tinha grande força diante a nobreza. O dízimo contribuía para que o poderio católico aumentasse, suas terras aumentassem, pois, tanto os pobres que eram os camponeses, quanto os ricos que eram os nobres, doavam a igreja 10% do que era produzido na terra[2], lembrando que era a terra a principal riqueza na época. Um fato importante nisto tudo, além da forte ideologia teológica preponderante naquela época, era a atuação da igreja no campo social. Tanto naquele tempo como nos tempos de hoje, a igreja opera nos pontos fracos da sociedade. Naquela época era a pobreza extrema dos camponeses, hoje em dia além da pobreza, a calamidade da dependência química é fato presente em nosso meio social. Estes pontos são culminantes na atuação das igrejas hoje em dia, um espaço ocupado pelos evangélicos que se multiplicam em vários cantos da cidade, principalmente nas periferias. Apesar de serem os católicos majoritários no Brasil, o crescimento evangélico demonstra uma redução de católicos, como apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010):

A proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Em paralelo, consolidou-se o crescimento da população evangélica, que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Dos que se declararam evangélicos, 60,0% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados.

Os valores pragmáticos da igreja evangélica têm ênfase na guerra espiritual contra o diabo e na Teologia da Prosperidade. O individualismo está na base da relação entre Deus e a pessoa, coincidindo com um dos valores de nossa sociedade, o próprio individualismo. Isto tem fundamento apartir do livro sagrado: a Bíblia[3], pois a palavra que esta nela, esta acima de qualquer contestação, segundo o meio religioso a qual me refiro. A figura do pastor se faz importante neste processo, pois é ele que conduz seu rebanho à interpretação da palavra sagrada. O dízimo entra neste processo como parte integrante dos desejos individuais com o ganho que virá divinamente, geralmente estes ganhos são a resolução de problemas individuais e distribuição de benefícios imediatos, porém, nada diz a sociedade[4].

Dentro de toda esta idéia caridosa da igreja, seja ela a católica, desde a Idade Média, quanto às evangélicas, a riqueza delas é inversamente proporcional a dos ganhos daqueles que doam os dízimos. A defesa de pastores como o Silas Malafaia, está nos feitos de seus trabalhos em cima dos problemas onde o Estado é ausente, dizendo que as pessoas, as quais estão satisfeitas com sua benção, não medem valor de dízimo em cima daquilo que pediram e foram solicitadas[5]. O dinheiro doado as igrejas evangélicas está legitimado pela palavra sagrada da bíblia, como aparece em Malaquias 3:8:

Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova, diz o Senhor dos Exércitos, e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las.

A religião sempre possuiu forte influência sobre o ser humano, as sociedades foram organizadas sob sua influência, em algumas o poder espiritual afortunou-se em matéria fazendo um grande negócio a guerra espiritual contra um eventual Diabo. O fato é que a igreja evangélica aumenta o seu poder e parece que vem cada vez mais aumentando, não só através da riqueza material, mas também dentro da política. A História nos lega este fato, quanto mais aumenta a riqueza de uma instituição religiosa, mais prestígio político vai tendo. O caminho evangelista parece encontra os caminhos da igreja católica, aquela que se construiu desde a Idade Média por seus atos caridosos e se tornou, mais tarde, um império junto aos reinos absolutistas e que perdura até os dias de hoje. Com toda certeza não se pode exagerar os atos caridosos da religião evangélica, muito menos a católica, pois a medida de sua riqueza esta acima de seus fiéis, principalmente, entre os mais pobres. O dízimo ainda é a fonte de renda das religiões, onde algumas chamam de doações. Parece que os pastores usam seus templos como a casa de Deus e as doações como a vontade do senhor. O fato é que a sociedade, ou então, os lugares onde atuam as igrejas evangélicas, especialmente nas periferias, estão imóveis, o que parece é que o “senhor” vem há muito tempo esquecendo de redistribuir os dízimos na mesma proporção a que recebe.

Referências

BIBLIOTECA NACIONAL, Revista de História, Evangélicos. A fé que seduz o Brasil. Nº 87. Dezembro de 2010.

HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Zahar Editores S.A. RJ, 1983.

Entrevista do pastor Silas Malafaia ao programa de Frente com Gabi. Comandado pela jornalista Marília Gabriela, no dia 04/02/2013.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)- Geopolítica. Link: https://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2170

Site: https://www.bibliaon.com/dizimo/


[1] Professor de História.

[2] HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Zahar Editores S.A. 1983. RJ.

[3] Gênises 17.7; Marcos 11.23-24; Lucas 11.9-10

[4] Ler BIBLIOTECA NACIONAL, Revista de História, Evangélicos. A fé que seduz o Brasil. Nº 87. Dezembro de 2010.

[5] Ver entrevista do pastor Silas Malafaia ao programa de Frente com Gabi. Comandado pela jornalista Marília Gabriela, no dia 04/02/2013.

 

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