Paraguai nada contra a corrente da América Latina

26/06/2012 12:16

Davenir Viganon

Um processo relâmpago de impeachment afastou no dia 22 desse mês o Presidente paraguaio Fernando Lugo. O golpe de Estado “branco”, como tem sido chamado, é um alerta para o momento histórico latino americano que elegeu nos últimos anos, presidentes de esquerda, como no Brasil. Mas esse movimento não foi suficientemente forte para deter uma relação histórica do Paraguai com o autoritarismo, fazendo o país nadar contra a corrente da América Latina.

O Paraguai que ao eleger Lugo foi exemplo desse movimento continental acabou por entrar em choque com seu cenário político interno. No país os partidos de direita (Colorado e Liberal) são muito fortes, datados desde o fim do século XVIII e caracterizados pela aliança com o capital externo, o militarismo e o favorecimento de uma elite conservadora que controla os setores chave do país. A esquerda paraguaia se aliou ao PLRA - Partido Liberal Radical Autêntico - que incluiu na chapa o vice-presidente Frederico Franco, para chegar ao poder.

No Paraguai a frágil aliança política entrou em colapso depois do apoio que Lugo deu apoio aos movimentos sociais, como os de trabalhadores sem-terra, foi o momento em que os Liberais romperam com a aliança com o Partido de Lugo, usando sua maioria nas câmaras legislativas do país e deslanchar o golpe decisivo no governo Lugo. Afinal o presidente estava isolado politicamente pela falta de apoio dos mesmos movimentos sociais durante a eleição. Esses estavam receosos pela aliança com o PLRA. No momento em que o presidente conseguiu estreitar suas relações ao dar apoio aos sem terra a direita reagiu intensamente.

A tradição política do Paraguai foi de um autoritarismo com presença forte do exército, os partidos tradicionais sempre necessitaram do apoio do exercito para continuar governando. Nesse cenário a sociedade civil não teve força para se fazer representar no Estado frente aos partidos políticos que são preponderantes nesse papel. A democracia parece um corpo estranho no Paraguai, o que é comum na América Latina, mas no caso paraguaio, se encontra mais forte. A idéia de ordem, que dificulta a troca de lideres como é comum numa democracia é sempre traumática para a política paraguaia. A reeleição é sempre o esperado em um país que mantém governos por décadas. Sua legitimação não depende somente de um resultado eleitoral devido à fraca participação da sociedade civil. Esta que estava recém acordando e se movimentando no país parece que o fez tarde demais, pois não se empenhou em legitimar o governo Lugo, resultando na abrupta deposição do presidente.

A acusação do processo é de “mau desempenho de suas funções”, é uma demagogia se pensarmos que quem deveria “julgá-lo” é o povo não o elegendo nas próximas eleições e não um conchavo político. Mas se lembrarmos que “ordem” no Paraguai é a não alteração de um sistema que nunca deu espaço para os movimentos sociais, quando tentaram 17 sem-terras morreram, faz mais sentido para entender o pensamento da direita no país.

Esse golpe de Estado é chamando de “branco” por que não usou o exército para depor o presidente, e sim brechas na lei, o que não descarta uma possivel ação do exército. O processo também expôs a fragilidade da democracia no Paraguai, que enfrenta desde os anos 90. A Esquerda paraguaia sofreu uma grande derrota ao tentar implantar no País um governo de esquerda, fracassando ao tentar legitimar seu governo. A isso se atribui pela falta de coesão entre os movimentos sociais e o governo Lugo que não conseguiu conter a Direita paraguaia historicamente autoritária.

Lugo está agora buscando o apoio da população, mas também a própria população parece estar se movimentando contra os articuladores do golpe. Esperamos que o site lançado nesta segunda-feira pela também recente Frente de Defesa da Democracia vai ser suficiente para reverter o jogo.

Referencias

RIVAROLA, Domingo. La experiência democrática em Paraguay. In: PINTO, Céli Regina e GUERRERO, Hugo. América Latina: O desafio da democracia nos anos 90. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1996.

https://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20452&editoria_id=6

 https://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20461

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/06/senado-condena-lugo-em-processo-politico-no-paraguai.html

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