PT e a politica: Entre o tipo ideal e o mundo real
14/06/2012 11:28Nelson Pisoni
Já escutei algumas vezes de conhecidos e desconhecidos manifestações de decepção com o Partido dos Trabalhadores PT pelo fato deste ter, depois de assumido o poder, em nível federal, perdido suas características mais belas, como o combate ferrenho à corrupção e sua disposição revolucionária como alternativa na construção de uma sociedade diferente das promovidas em nosso país pelos sucessivos governos de extrema direita ou centro direita. Muitos vão além e assinalam que o PT deliberadamente virou as costas para sua própria ideologia e tornou-se, na condução política e econômica, um mero símile dos partidos de direita que tanto criticava.
A grande parte destas pessoas, que historicamente se identificavam com o PT e se dizem hoje decepcionadas e até traídas pelo partido acabaram por adotar uma nova legenda: o Partido Socialismo e Liberdade PSOL. Algum Problema? Nenhum, muito pelo contrário. Se as expectativas políticas destas pessoas eram atendidas pelo PT no passado e no presente são atendidas pelo PSOL, esta deve ser naturalmente a nova legenda para que estas pessoas sigam na luta política de construção social. Mas confesso que o discurso de depreciação do PT, como é feito por grande parte dessas pessoas nesta transição me incomoda. Não que este discurso venha a ser totalmente descabido ou que não tenha nenhum ponto de veracidade, mas sim por se apoiar muito mais em uma expectativa de atuação política de tipo ideal, enquanto que a política na sua dimensão de exercício do poder conquistado se desenrola no mundo real. Acabam por desconsiderar assim um ponto fundamental, a diferença entre atuação política fora do poder, na oposição, e a atuação política no poder, dimensões diversas do exercício político. A maioria também passa por cima destes dois momentos históricos diferentes que marcaram as duas épocas, a do PT na oposição e no governo, e caracterizam como uma espécie de degeneração ideológica a evolução do discurso do Partido dos Trabalhadores entre esses dois momentos. Não vou entrar aqui no mérito de ter sido, essa evolução, para melhor ou para pior, mas penso que nenhuma instituição pode ser condenada pela evolução em si de seu discurso. Vou além, não consigo perceber como ponto positivo o fato de um partido, em um mundo turbinado em sua dinâmica de transformações pela consolidação do processo extremo de globalização, apresente em 2012, um totalmente inalterado discurso político que tinha em 1980.
O surgimento do PT representou, entre tantas coisas, uma esperança de renovação na pratica da política nacional. Pergunto-me, a prática política mudou ou não desde 1980? Mudou é claro. Mas o PT não fez isso sozinho? Claro que não. Mas teve fundamental importância. Quanto a isso as expectativas muito mais foram confirmadas do que frustradas. Dizem, que muito da firme e contundente ideologia (tipo ideal, ou utopia extremamente fundamental por apontarem objetivos a serem atingidos) perderam-se pelo caminho (mundo real). Será que se perderam mesmo, ou todo esse processo não passou de uma natural evolução deu uma instituição política que jamais atuou em um monólogo e sim em uma rica dialética social que foi composta dentre outras coisas por três eleições em que o povo brasileiro disse não a um discurso do PT que era marcadamente mais radical do que na campanha da vitória e que esquerda elegeu (me incluo inclusive) como a ideologia perdida? Não foi preciso entrar em cena o Lula paz e amor, com discurso conciliador e de cumprimento dos contratos anteriormente firmados no país, com um terno e barba de corte moderno para que pudesse enfim chegar ao poder e ter a chance de mudar os rumos do país, como de fato o fez? Esse processo foi simples fruto de degeneração ideológica ou de aguçada percepção das circunstâncias presentes na dinâmica social do país que concedeu ao PT o direito de governar, não apenas para a esquerda, mas para todo o Brasil.
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