Uma Sustentabilidade Insustentável?
01/11/2012 08:39Rodrigo Hermano
Quando eu era aluno do curso de História das Faculdades Porto-Alegrenses, no ano de 2010, tive uma aula com a professora Analucia Danilevicz Pereira, onde a mesma contestava a hipótese do aquecimento global causado pela ação humana. Como o tempo de uma aula é insuficiente, fiquei com muitas dúvidas. Como assim, se as geleiras estão derretendo? E o Mar de Aral sumindo? E o aumento no nível de CO2 na atmosfera? Não pretendo apresentar aqui as respostas definitivas para esta questão, mas compartilhar alguns questionamentos.
O que é o “aquecimento global antropogênico”? É a hipótese climática mais difundida no mundo de hoje. Ela afirma que a ação humana sobre o meio ambiente está provocando um aquecimento planetário, que pode levar, em um futuro próximo, a desastres naturais catastróficos. Alguns afirmam que mesmo os eventos atuais já são fruto dessa alteração climática. Um dos maiores divulgadores dessa teoria é a ONU, através do seu Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), que financia pesquisas para comprovar suas previsões catastróficas e, ao mesmo tempo, propor soluções.
A admissão do fato de que o ser humano, ao modificar o meio ambiente, causa efeitos climáticos e desequilíbrio na natureza não é nova. E nem poderia, porque este é um fato real, podemos explicá-lo analisando o esgotamento de um solo onde um camponês cultivou ano após ano, sem dar-lhe descanso para recompor os nutrientes necessários às plantas. Certamente desde o seu contato mais primitivo com a agricultura essa noção começou a desenvolver-se no imaginário. Segundo o professor Felício afirmou, em entrevista à televisão¹, os romanos, na antiguidade, se questionaram sobre os impactos ambientais da construção dos aquedutos. Os egípcios, um povo que desenvolveu-se em uma região árida propícia a enchentes e acostumou-se a conviver com tragédias climáticas, viam na transformação do meio ambiente um meio de sobrevivência. Através de aquedutos e canais, conseguiam aumentar o seu reduzido espaço de cultivo e navegação. Mas um dos maiores exemplos de sucesso na capacidade humana de transformar o meio ambiente a seu favor deu-se na América entre os astecas. Este povo construiu sua enorme capital, Tenochtitlán, sobre ilhas pantanosas quase inabitáveis, localizadas no centro de um lago, no México. Quando a população aumentou e o espaço para cultivo mostrou-se insuficiente, criaram um sistema onde plantavam sobre plataformas flutuantes. A água do lago era imprópria para beber. Dessa forma, os astecas também precisaram construir um sistema engenhoso de aquedutos que trouxesse a água da terra até a ilha.
Nos tempos atuais, este é um discurso hegemônico, ou seja, qualquer pessoa contrária ao mesmo, encontrará oposição e essa será capaz de apresentar dados que, à primeira vista, afirmam que estamos em um período de aquecimento. Fotos de ursos polares “empoleirados” sobre blocos de gelo, com aquela carinha fofa que causa comoção instantânea, junto ao símbolo do Greenpeace, já geram exclamações pouco educadas. Todas elas direcionadas aos quase abstratos “criminosos” que deixaram o “ursinho” naquela situação difícil. Na verdade, nem tão difícil se “cairmos na real” e não no simbolismo que uma foto dessas carrega. O urso polar não tem nada de meigo, ele pode nadar mais de trezentos quilômetros em um só dia e ele está no bloco de gelo camuflado esperando uma foca desavisada passar por perto.
Imagem: https://ednamars.blogspot.com.br/2011/09/o-aquecimento-global.html&docid=NnTeMDlRPg7uGM
Quanto ao derretimento do Ártico, este trecho de um documento elaborado pelo serviço de pesquisas do Congresso dos Estados Unidos, pode nos demonstrar o quanto sabemos sobre o clima do Ártico:
“Arctic sea ice melted in 2007 to the smallest coverage since satellite measurements began in 1979 — perhaps 50% below sea ice extent of the 1950s.” (Congressional Research Service, RL34266, 2008) Traduzindo para nosso idioma: “O gelo do Mar Ártico derreteu, em 2007, para a menor cobertura desde que as medições de satélite começaram em 1979 - talvez 50% abaixo da extensão do gelo do mar em 1950.”
Se medimos o gelo do Ártico através de satélites desde 1979 e na melhor das hipóteses a mais antiga fonte de referência deles para a cobertura de gelo data dos anos 1950, não temos como comparar estes dados com a era pré-industrial. No mínimo, as conclusões catastróficas me parecem precipitadas e carentes de provas mais concretas.
Somos bombardeados por este discurso desde a infância. Lembro-me que, quando criança, sentia-me ameaçado pelos “assassinos frios” que construíam indústrias, com suas chaminés ameaçadoras que cuspiam fumaça. Nas revistas da Turma da Mônica, das quais eu era leitor, Maurício de Sousa apresentava as chaminés cuspindo uma fumaça preta em forma de caveira. O tema ecologia era perfeito para os personagens Papa-Capim e Chico Bento, onde os mesmos exaltavam o primitivismo e a vida simples da fazenda. Lembro-me do Eco-92, da mobilização que o tema ecologia criou na época. A mensagem é uma só: despreze as indústrias, pois o homem causa essa tragédia através da industrialização. E quanto àqueles países que já se industrializaram? Ótimo, podem sustentar quem ainda não o fez. Você ajuda as nações em desenvolvimento porque sabe que, sem elas, você não sobreviverá economicamente, já está esgotado. Isso soa da seguinte forma: “Já fizemos as usinas nucleares, que azar. Teremos, infelizmente, que usufruir dela, mas podemos impedir que outros a façam.” Ou talvez: “Infelizmente nossa matriz energética é o carvão, mas a sua, que ainda não está consolidada, pode ser o vento e o sol. São ruins, sabemos, não são capazes de mover uma siderúrgica, mas é sustentável, é pelo nosso futuro. Siderúrgicas nós temos, podemos lhes vender o aço se você nos ceder seu carvão e o ferro.” É algo parecido com criar porcos. Os alimentamos com aquele milho que jamais comeríamos, lhes abrigamos da chuva e do frio, porque sabemos que eles serão mortos e nos alimentarão.
É isso que parecem as informações extraídas de alguns documentos que encontrei no Wikileaks:
“At the first Major Economies Meeting (MEM), hosted by the United States, U.S. President George Bush pledges $2 billion over three years for a Clean Technology Fund (CTF) under the World Bank, expecting to raise $10 billion among donors to support concessional financing for energy projects in developing countries. Some environmental groups oppose inclusion of coal electricity in permitted project types.” (Congressional Research Sevice. RL40001, 2008) Traduzindo: "No primeiro “Major Economies Meeting” (MEM), organizado pelos Estados Unidos, o presidente dos EUA, George Bush prometeu US$ 2 bilhões em três anos para um Fundo de Tecnologia Limpa (CTF), sob o Banco Mundial, com a expectativa de aumentar a US$ 10 bilhões como auxílio de doadores que apoiarão a concessão de financiamento para projetos de energia nos países em desenvolvimento. Alguns grupos ambientalistas se opõem à inclusão de termelétricas (usinas a carvão) nos projetos permitidos."
Resumidamente, eles afirmam que, na reunião entre as potências econômicas globais, em 2007, George Bush tomou a iniciativa de colocar dinheiro de seus contribuintes em um fundo para financiar projetos de energia limpa em países em desenvolvimento. Claro que não será de graça, tudo será levado a frente por concessões à empresas dos EUA.
Existem certas “coincidências” e um grau de mobilização, tanto de empresas como de organismos internacionais que merecem ser analisados mais profundamente. Não o farei aqui pela limitação do espaço, pois é um assunto bastante longo e complexo. São inúmeras as variáveis políticas, econômicas e geográficas envolvidas em uma análise como essa.
Atualmente, em contrapartida, mesmo beneficiados enormemente por tal prática, modificar a natureza representa um crime, inclusive sendo punido por leis, como as do Direito Ambiental. Luís Fernando Coelho e seu artigo “Dogmática, Zetética e Crítica do Direito Ambiental” traz alguns pontos interessantes que me permitem apresentá-los a alguns atores envolvidos neste processo, como o controverso IPCC da ONU:
“O recente Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) apontou perigos (...) deverão ocorrer até o final do século XXI. (...) Aumento da temperatura média da Terra (...) CO2 (...) queima de combustíveis fósseis, os quais permanecem na atmosfera e funcionam como uma estufa. (...) assinala-se que esse aumento poderá ficar entre 1,8 e 4 graus (...) catástrofes naturais de extrema gravidade. (...) Elevação no nível dos oceanos em até 38 centímetros (...) risco de graves inundações nas cidades costeiras, Nova York e Rio de Janeiro entre elas. (...) derretimento das geleiras no Ártico, na Groenlândia (...) Himalaia e os Andes. (...) desastres ecológicos inimagináveis. (...) eclosão de epidemias de doenças tropicais (...)” (COELHO. Luís Fernando. “Dogmática, Zetética e Crítica do Direito Ambiental” in GOMES, Eduardo B., BULZICO, Bettina: “Sustentabilidade, Desenvolvimento e Democracia.” Ijuí: 2010. Editora Unijuí)
Parece um cenário apocalíptico de fazer inveja a São João, mas é apenas um artigo sobre direito baseado nas previsões do IPCC da ONU. Então ele explana brevemente sobre as teorias que contradizem o IPCC. E conclui, de forma irretocável:
“Essas opiniões, que tratam de modo despiciendo as recomendações da ONU, são no mínimo irresponsáveis, não porque estejam necessariamente erradas, mas porque nesse assunto não se pode correr riscos, do mesmo modo que devem ser evitadas situações que ponham em perigo a vida humana individual, mesmo que apenas prováveis.“ (idem)
Essa afirmação acima é bastante perigosa, pois dessa forma não podemos elaborar hipóteses que venham a desmascarar erros nos relatórios do IPCC da ONU. Isso traria estagnação ao conhecimento científico sobre a área em questão e permitiria aos cientistas da ONU monopolizarem tais estudos.
Recomendo especial atenção a este pequeno trecho: “Ainda que baseadas em observações científicas, não passam de opiniões, e a mera possibilidade de estarem equivocadas já recomenda sua rejeição.” (idem)
Se algo é baseado em uma observação científica, é uma teoria. O termo “opiniões” me parece inadequado. Como a mera possibilidade de uma hipótese estar equivocada pode levar um estudioso a abandoná-la se o estudo da mesma é, em si, o fator que determinará sua veracidade ou não?
Mas como a História se presta a refutar alguns destes dados catastróficos acima? Vamos começar pelos mais simples, cuja prova está em si mesmo. O nome “Groenlândia” (em inglês, Greenland) significa “Terras Verdes”. Todos sabemos que aquelas “Terras Verdes” são um imenso bloco de gelo que, de verde, tem muito pouco. Teriam os Vikings da alta idade média chamado aquela região dessa forma porque a Groenlândia era verde quando a descobriram? Teria o planeta esfriado desde então, transformando a Groenlândia em um imenso bloco de gelo? Outro fato que intriga é o nome de algumas ruas de Londres: “Rua dos Vinhedos”, “Alameda das Vinhas”. O clima atual de Londres não permite o plantio de vinhedos, é frio demais. Teria Londres sido quente antigamente? Na mesma época em que a Groenlândia ainda fazia jus ao seu nome? Se assumirmos que sim, então assumiremos que o clima do planeta é muito mais instável do que acreditamos. Este gráfico abaixo mostra as temperaturas médias desde os tempos dos vikings até a atualidade e nos dá pistas sobre essas duas afirmações acima:
Fonte: https://informacaoincorrecta.blogspot.com.br/2011/01/sol-lua-e-clima.html
Notamos, pelo gráfico, que durante a era medieval, as temperaturas médias da Terra eram muito mais elevadas do que na atualidade. Este fenômento é chamado pelos cientistas de “ótimo climático medieval”. Entre os anos 1500 e 1600, ao contrário, as temperaturas médias caem quase um grau e meio. Este gráfico mostra uma clara instabilidade nas temperaturas.
Ainda permanecem muitas dúvidas, que deixarei para textos futuros, como o papel dos vulcões e do sol, por exemplo. Estamos longe de encontrar uma resposta definitiva para essa questão. No entanto, podemos analisar os dados que estão sendo disponibilizados atualmente por geógrafos e historiadores que contestam essa teoria, como os professores Luiz Carlos Molion, da UFAL, o professor Ricardo Augusto Felício, da USP e a professora Analucia Pereira, que me apresentou esse questionamento.
Referências:
Wikileaks. Congressional Research Service; 2008 - [acesso em 30 de Setembro de 2012]. ID: RL34266; [18 p.]. Disponível em: https://www.wikileaks.org/wiki/CRS:_Climate_Change:_Science_Update_2007,_March_12,_2008
Wikileaks. Congressional Research Service; 2008 - [acesso em 30 de Setembro de 2012]. ID: R40001; [12 p.]. Disponível em: https://www.wikileaks.org/wiki/CRS:_A_U.S.-centric_Chronology_of_the_International_Climate_Change_Negotiations,_December_23,_2008
COELHO. Luís Fernando. “Dogmática, Zetética e Crítica do Direito Ambiental” in GOMES, Eduardo B., BULZICO, Bettina: “Sustentabilidade, Desenvolvimento e Democracia.” Ijuí: 2010. Editora Unijuí.
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